Morreu neste sábado (24) o menino Kaio Guilherme da Silva Baraúna , de 8 anos, que foi atingido na cabeça por uma bala perdida na tarde da última sexta-feira (16), em Vila Aliança, Bangu, Zona Oeste do Rio. Kaio estava internado no CTI do Hospital Municipal Pedro II, referência em neurocirurgia, desde o sábado retrasado (17).
Após oito dias de internação, Kaio “descansou”, comunicou sua mãe, a professora Thais Silva, de 29 anos.
— É com muita dor que comunico que meu filho descansou. Ele lutou muito — disse.
Kaio estava em festa na Vila Aliança quando foi baleado. O menino foi levado inicialmente para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. Após receber os primeiros socorros foi transferido para o Hospital Pedro II. Kaio foi a centésima criança baleada na Região Metropolitana fluminense nos últimos cinco anos — seis delas apenas nestes primeiros meses de 2021, segundo levantamento da plataforma Fogo Cruzado.
Descrito como uma criança alegre, Kaio sonhava ser jogador de futebol e aparece em uma das fotos de família com a camisa do Bangu, time do bairro em que mora. Ele foi atingido por volta das 16h30m, quando estava na fila para fazer uma pintura no rosto. O menino caiu no chão e a mãe, a professora Thais Silva, de 29 anos, foi socorrê-lo.
— Quando vi muito sangue, não conseguia nem reagir, só chorar. Não conseguia nem segurar meu filho — disse ela, muito abalada, ao “RJ1” da TV Globo, um dia após o incidente.
Devido ao distanciamento entre as crianças, Thais descartou a hipótese de que o filho teria sido empurrado por algum coleguinha e batido a cabeça em uma pedra. Ela também afirma que não havia confronto na região. Um vizinho, que é socorrista, ajudou a levar Kaio às pressas para o hospital. De acordo com a direção do Hospital Municipal Albert Shweitzer, a criança chegou à unidade em parada cardiorrespiratória, foi reanimada e passou pelos procedimentos de emergência necessários para estabilizar o quadro.
— Na própria sexta-feira (16), ele foi operado. Pedimos a ambulância e fomos transferidos para o Pedro II, mas não tinha leito de UTI. Só conseguimos uma vaga no CTI agora domingo de manhã — conta Thaís.
Filho único, morava com os pais em uma casa de fundos para o local onde vivem as tias e as avós.
— O time dele do coração é o Vasco da Gama. Ele entende tudo de futebol — lembra a mãe.
Polícia intima homem que cumpriu pena por tráfico
A Polícia Civil ainda não identificou o autor do disparo. Os investigadores trabalham com a hipótese principal de que a bala foi disparada por um homem ligado a um grupo de traficantes da Vila Kennedy. Segundo o delegado Luís Maurício Armond Campos, da 34ª DP (Bangu), o homem cumpria pena por tráfico de drogas até cerca de um mês e meio antes da morte de Kaio Guilherme. Ele já foi intimado a prestar depoimento e deve comparecer à delegacia na próxima terça-feira.
— Essa investigação é complicada porque as testemunhas não souberam apontar de onde veio o disparo — afirma o delegado.
A polícia ainda quer saber se os médicos do Hospital Pedro II que realizaram a cirurgia no menino conseguiram ou não extrair o projétil que feriu a criança. De acordo com o delegado Luiz Maurício Campos, o laudo médico já foi oficiado, mas ainda não chegou aos registros da Polícia Civil. Se a retirada da bala for confirmada, a Polícia Civil poderá determinar, por meio de perícia, o calibre da arma responsável pelo disparo.